sábado, 17 de maio de 2008

Noite viril de perseguição - Parte 2

Prosseguem a contemplar tênis gastos de pó, estagnados entre um ladrilho quebrado coberto por uma tábua de madeira de lei e um vício qualquer, presos a vermelhidão eminente hipnoticamente usufruida com deleite. Um passo em falso em meio à música eloqüentemente surda, joelhos de volta aos ladrinhos de cevada, mões auxiliadoras procurando sítio por entre os vícios jogados pelo chão, as unhas roídas com esmalte negro por sair impregnadas. Um puxão na saia preta curta de couro e sapatos vermelhos nos ladrinhos de cevada. Azul nas luzes, unhas roídas com esmalte negro por sair desgrenhando o ruivo. Sapatos vermelhos prosseguem. Os gastos de pó ao longe observa, tímidas costeletas que se movem com a surdez, botões despreocupados pulsando tranquilamente. Sapatos vermelhos. Do bolso esquerdo da calça, um fumo e um fogo, e a fumaça displicente dissipa-se a cima dos cachos irregulares sobre a testa. Vermelhos prosseguem. A saia preta curta de couro balança uniforme ao fumo nos gastos de pó. O vermelho mais rápido na cevada, os botões mais rápidos no pulsar despreocupado, o rímel mais rápido nas bochechas, a fumaça mais rápida nos cachos irregulares sobre a testa, as unhas roídas com esmalte negro por sair mais rápidas na impregnação, as alças mais rápidas no cair sobre os ombros, as golas mais rápidas no levante, mais rápido na estagnação do momento eternizado e viril.

- Oi.

(continua...)

sábado, 3 de maio de 2008

Noite viril de perseguição

A música vai surdando, uns pés em sapatos vermelhos. Uma mão na maçaneta dourada, unhas roídas com o esmalte negro por sair. Uma porta aberta, outra fechando. Mirou-se no espelho, dois segundos eternos, cabelos ruivos desegrenhados, rímel disposto pelas bochechas, dois segunos eternos e infindáveis, uma colar de contas peroladas que cai pelo colo, uma alça preta por sobre o ombro esquerdo, dois segundos eternos, infindáveis e solitários, a mão direita sobre a pia junto e junto ao cálice, a esquerda cobre a boca. Desfalecimento repentino. Uma miríade de espasmos estomacais, jogada sob os joelhos, de saia preta curta de couro e mãos auxiliadoras. Sapatos vermelhos de volta aos ladrilhos cor de cevada, água que flue, pelo retrete, bacia, boca. Uma mão na maçaneta dourada, unhas roídas com o esmalte negro por sair. Uma porta se abria, outra abrindo. Sapatos que andam displicentes em meio a música intangível e outros sapatos. Uma pausa. Um olhar, de azul para negro, de negro para azul. Cabelos ruivos desgrenhados, rímel disposto pelas bochechas, um colar de contas peroladas que cai pelo colo, uma alça preta por sobre o ombro esquerdo. Cachos irregulares sobre a testa, maxilar enaltecido pelas costeletas tímidas, botões despreocupadamente abertos, um lado direito da gola da camisa levantada. Uma pausa. Sapatos vermelhos prosseguem.

(continua...)