A música vai surdando, uns pés em sapatos vermelhos. Uma mão na maçaneta dourada, unhas roídas com o esmalte negro por sair. Uma porta aberta, outra fechando. Mirou-se no espelho, dois segundos eternos, cabelos ruivos desegrenhados, rímel disposto pelas bochechas, dois segunos eternos e infindáveis, uma colar de contas peroladas que cai pelo colo, uma alça preta por sobre o ombro esquerdo, dois segundos eternos, infindáveis e solitários, a mão direita sobre a pia junto e junto ao cálice, a esquerda cobre a boca. Desfalecimento repentino. Uma miríade de espasmos estomacais, jogada sob os joelhos, de saia preta curta de couro e mãos auxiliadoras. Sapatos vermelhos de volta aos ladrilhos cor de cevada, água que flue, pelo retrete, bacia, boca. Uma mão na maçaneta dourada, unhas roídas com o esmalte negro por sair. Uma porta se abria, outra abrindo. Sapatos que andam displicentes em meio a música intangível e outros sapatos. Uma pausa. Um olhar, de azul para negro, de negro para azul. Cabelos ruivos desgrenhados, rímel disposto pelas bochechas, um colar de contas peroladas que cai pelo colo, uma alça preta por sobre o ombro esquerdo. Cachos irregulares sobre a testa, maxilar enaltecido pelas costeletas tímidas, botões despreocupadamente abertos, um lado direito da gola da camisa levantada. Uma pausa. Sapatos vermelhos prosseguem.
(continua...)
sábado, 3 de maio de 2008
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3 comentários:
Adoro seus textos de frases curtas e ricas
Me deleito nesse blog!
Beijos, Gi
Oi! eu te vejo muito lá no porto, eu so a Gabriela da oitava de tarde, acho que vc nem me conhece mais só to passando pra dize que amei seu texto!Parabens vc escreve muito bem mesmo!
Beijoss ;*
Imagine algo que sintetize a putrefação humana, a corrosão da alma e o desgaste do corpo em caixinhas de surpresas.
Esse algo são seus textos, parceira.
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