A reuniao de família
Ouve-se por ai que as familias alemas sao bem diferentes das brasileiras. Bom, a minha é uma excessao. Um tio que faz piada sobre tudo, os avós que sao sempre muito simpáticos e fofos, o primo que, muito embora seja o mais velho, é o mais infantil da familia, a prima que é a menor que fica emburrada por qualquer brincadeira, as tias que ajudam a avó com a comida deliciosa do domingo... Alguma diferenca? Eu, realmente, nao consegui perceber muita. Era um domingo e nós fomos para Straussberg, uma pequena cidade vizinha de Berlin. Umas 2h de viagem e como previsto, o cenário que eu observava pela janela era fantástico. Campos imensos cobertos de neve, pinheiros gigantescos ainda verdes, tudo realmente cinematográfico pra mim. A Jenny durmiu no carro. A Jeannette, como sempre, teve que tirar um sarro. Ela tira sarro de tudo.
Disse que ela dorme até quando vai no restaurante da esquina. Chegamos. A cidade é linda. Lembrou-me muito Kassel. As pequenas casinhas, as ruas cobertas de gelo, os pinheiros, uma saudade infinita. Estacionamos em frente a um desses pequenos predinhos, com cerca de 5 apartamentos. Subimos 8 lances de escada, tiramos os sapatos. Os avós esperavam por nós levando abracos ternos a tira colo. Entrei na casa e fui transportada para um cenário soviético da década de 80 imediatamente. A roupa dos avós, a mobilia, a atmosfera, bonequinhos russos por todos os lados. No meio da conversa, tudo fez mais sentido. O avó estudou em Moscou, a familia toda é socialista. A avó chamou-me na cozinha a fim de me mostrar a cozinha alema. Disse-me milhares de dicas, o modo de preparo de tudo e eu, claro, só entendi meias palavras. O resto da familia chegou e era preciso finalizar o almoco. Josina é quem prepara o prato de acompanhamento, uma especie de bola de batata/polenta recheada com pedacinhos de pao na manteiga. Tudo pronto, alguns momentos de constrangimentos meus em relacao ao primo e seus maravilhosos os olhos, um brinde ao Natal! Com soda, claro. Todos os presentes dos avós sao entregues. Eles viajarao. Um clube de danca e um final de semana no mar do norte. Nunca comi tanto na minha vida. Carne enrolada, carne de porco, as tais bolas de batata, legumes, molho... Realmente, a cozinha alema é muito boa. Mais conversa e resolvemos passear nas redondezas. Fomos a um parque onde há cavalos, coelhos e porcos. A Josi nao desgrudava dos cavalos. Jamais vi alguem tao apaixonada por cavalos quanto ela. A avó ia me contando tudo sobre o lugar e ia me perguntando tambem sobre minha vida. Disse que gostou muito de me conhecer melhor. Voltamos pra casa. Era hora do chá da tarde e nao sei porque, mas sempre sinto que essa é a melhor hora do dia. Alguma coisa há de melhor do que bolos deliciosos e um ótimo café vienense?
Comi a melhor torta de maca de todos os tempos. As macas estavam frescas e nao cozidas. Vai a dica. Na despedida, ganhei o presente. Uma bonequinha russa, na caixa original datada de 1985. Praticamente surtei. Linda. Ficará na estantes de livros do meu quarto... A avó disse, realmente tocada, para eu mandar cartas do Brasil. Sendo assim, tao bem recebida, nao tem como eu um dia me esquecer de tais pessoas...
Maratona
Ultimo dia do Tuh em Berlin, vamos fazer muita coisa.
Ir pra escola 7h30. Assitir aula dupla de portugues. Sair da escola as 9h30. Pegar o Bus. Parar na Alexanderplatz. Pegar o S-Bahn. Parar na Friedrichstraße. Ter ataque de riso depois de escutar "Züruck bleiben, bitte". Pegar o U-Bahn. Parar na Hallesches Tor. Ir no Jüdisches Museum. Pegar o U-Bahn. Parar na Kochstraße. Ter ataque de riso depois de escutar "Züruck bleiben, bitte". Ir no Checkpoint Charlie. Comer Döner. Ir no Museu do Checkpoint Charlie. Pegar o U-Bahn. Parar na Friedrichstraße. Ter ataque de riso depois de escutar "Züruck bleiben, bitte". Pegar o S-Bahn. Parar na Hackescher Markt. Receber telefonema pra ir pra Potsdamer Platz encontrar brasileiros. Ficar 20 minutos em um S-Bahn quebrado. Pegar outro S-Bahn. Parar na Alexanderplatz. Pegar o Bus. Parar na Potsdamer Platz. Ir na Sony Store. Ir no Café. Ir na Stadtbibliothek. Ir numa igreja. Ir comer no cinema. Encontrar brasileiros. Abracos, abracos, abracos. Ir para o shopping. Abracos, abracos, abracos. Encontrar a Frau Janzen. Pegar o U-Bahn. Parar na Alexanderplatz. Pegar o U-Bahn. Parar em Straussberger Platz. Ufa. To em casa. Sao 19h.
Politiker
Minha Gastmutter é engajada politicamente. Alias, mais do que isso. Ela vive de politica. Ela é membro do SPD e faz parte da camara municipal de Berlin. É tao bom conviver com uma pessoa que ja vivenciou tanta coisa, em tantos ambientes. Em uma noite, fui a um trabalho dela. Ela dirige uma especie de Sesci, que organiza encontrar culturais, politicos e literários para pessoas comuns que se interessam por tais assuntos. Um projeto muito interessante. Uma colega do partido dela deu uma palestra sobre a crise financeira. Realmente muito legal. Teria sido mais legal ainda, se eu dominasse interamente a lingua alema e tivesse entendido realmente tudo que ela disse. A Birgit apresentou-me para todos como a filha que ela pedira, a enganaja politica e artisticamente. No dia seguinte, fui ao trabalho dela na camara municipal. Sai da escola e peguei o U-Bahn. Estava vazio, ainda bem. Pude sentar-me, escutar música, sentir a liberdade que tais dias proporcionam. Desci na Postdamer Platz. Realmente, um dos lugares mais bonitos dessa Alemanha. Cheguei bem adiantada, resolvi almocar em um dos cafés que tem por lá. Incrível como gosto de ficar nesses momentos. Sozinha, absorvendo idéias alheias de corpos sentados ao meu redor, tomando um bom café, uma vontade crescente de extornar o que eu respiro, o novo ar que vibra em meus pulmoes. Chega a hora, levanto-me e vou. Chegando lá, Birgit ja me espera na porta e nós seguimos juntas pelo prédio. Ela me mostra tudo, leva-me até os escritorios dos partidos, até seu proprio escritório. Conta-me um pouco da sua vida e da sua felicidade de ter alcancado tudo aquilo que um dia ela sonhou profissionalmente. Fui até o piso superior para me sentar no local destinado ao publico. Havia poucas pessoas e com certeza nao foram muito com a minha cara. Um seguranca sentou-se do meu lado. Outro sentou-se atras. Assisti, sem fazer sequer um ruido, a audiencia. Incrivel como eles realmente discutem os assuntos. Expoem seus ideais em assuntos de total importancia para a sociedade como a educacao e a saude. Em nada se assemelha ao Brasil e toda aquela discussao pifia sobre corrupcao e desvios publicos. Eles realmente querem melhorar a sociedade. Contudo, em todo lugar do mundo, politico é sempre politico. Alfinetadas entre partidos sempre sao ouvidas, provocacoes em relacao ao estilo de cada faccao sao sempre feitas. Cada um quer puxar mais para o seu lado. Politico é sempre politico...
Essa sexta-feira de novo nao...
Pelo amor, essa sexta feira a gente nao pode ficar em casa de novo. Isso seria totalmente frustrante, a gente tá em Berlin porra! Alias. A gente tá em Berlin E na Friedrichstraße, porra. Vamos dar uma volta e arrumar um lugar pra beber. Aqui nao... Aqui tambem nao... Muito menos aqui... A gente nao fecha nada mano. Vamos fechar ir naquele ali de tras? Entao fechou. Happy Hour 4.90 qualquer drink, é esse. Aqui é o neue Seo Rosa! Caipirinha, margarita, pina colada. Um shot de tequila pra todo mundo! Á mano, para de causar... Olha a pala...
PAAAAAAAAAAARTY
Sábado é dia de festa. Festa de aniversário do Jesper. A Jenny nao pode sair de casa, está de castigo. Durmi na casa da Sophia e da Maysa. AS 17h30 fui pra casa delas pra me arrumar, como sempre saimos atrasadas de casa e ainda precisamos comprar o presente. Fomos na H&M e compramos uma camiseta muito geil pra ele. Agora vai, marotona pra ir nessa festa: 3 U-Bahns. E cuidado porque sao 19h30 e os alemaes bebados habitam os vagoes dos metros. Chegamos, olhamos, olhamos, olhamos. Onde é esse tal de TEK? Ligamos pro Zapala. Ele e o Fonta nos buscaram na estacao. Minha gripe já comecava, mas como boa idiota que sou, acendi um cigarro. Chegamos no lugar. Entrei e nao tive como nao lembrar de um daqueles epsodios de The Oc. Um lugar escuro, muita fumaca, adolescentes bebendo cerveja no gargalo, um new rock tocando ao fundo, sofas displicentemente dispostos no salao, um bar ao fundo, paredes pichadas. É, eu devo estar em um sonho. Ois para toda a galera, um parabéns para o aniversariante que ja estava um pouco alterado. Musicas estranhas comecam a tocar e os brasileiros ficam revoltados. Vamos colocar o Ipod da Kah, pensamos. Brigamos com o aniversariente, que teimava em deixar tais horriveis musicas, e finalmente colocamos musicas descentes na festa. Fritamos. Fizemos os alemaes dancarem creu e piriguete. Ao final de tudo isso, fiquei completamente sem voz, completamente sem pés e completamente feliz. Belin é do caralho...
