- Porque eu não aguento mais porra nenhuma disso tudo! - braniu ela antes de bater a porta.
Há gestos que não tem explicação. Ou têm?
- Volta aqui! - disse ele batendo o punho direito na mesma porta d'antes batida, caindo, em seguida, no chão coberto de garrafas.
Talvez tivesse, talvez não.
Eram onze horas da noite e os pés dela doiam. O luz do elevador piscava a cada andar, passaram-se 12 breus quando ela abriu a antiga porta pesada. Embora só achasse papéis e porcarias dentro da bolsa, continuou a procurar o molho de chaves. Achou-o, virou a maçaneta.
- Ei... Você já chegou...? Onde você tá...? - perguntou ela para o lugar vazio, arrancando os sapatos marrons e os largando perto do roupeiro. Silêncio nas colchas, nas almofadas, nas panelas, nos sabonetes. Tirou o casaco e o jogou no sofá, no espaço que pode, por cima das garrafas e revistas.
- Até quando vai toda essa mer....? - dizia ela, quando foi interrompida por tropeções no hall. Era ele e uma garrafa. Ela se deteve no corredor extensamente, aquela seria a última vez. Seria.
- Já que você chegou finalmente, estou indo embora. - disse ela com um sorriso retilinio, caminhando até a porta que ele deixara entre aberta.
- Você não vai a lugar nenhum! - Um hematona formou-se no braço dela. Nenhum gemido, nenhuma palavra, uma lágrima, somente. Gestos, somente isso.
Ela pegou os sapatos do chão, por um único instante, já que eles retornaram logo ao chão, direcionados por uma mão grande, robusta e suja.
Olhos, eles sempre se encontram. Os dela com os dele, umas lagrímas quaisquer.
- Esta foi sua última marca em mim. - disse ela calmamente, olhos vidrados. - E sabe por que?
Gestos que falam, extraordinariamente mais do que as palavras ditas.
Eram onze e quatro da noite e a cabeça dele latejava. Chutou os sapatos marrons que ele não havia permitido ela levar consigo. Um gole, um freio e um estrondoso barulho. Olhou pela janela, umas tantas lágrimas caíram no asfalto. Ela, iluminada por dois faróis, ainda estava descalça enquanto o vermelho escorria.
Há gestos que não tem explicação.
Ou têm?
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
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2 comentários:
adoro a porção de efemeridade mundana que você coloca neles.
precisamos sair. urgentemente ;)
ficou muito bom!!!
gostei!
continue assim que continuará tendo muitas visitas ;D
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