sábado, 29 de dezembro de 2007
Uma alma em um senhor
Já tentou passear sozinho em um lugar bem mundano com muitos rostos passando pra lá e pra cá? Eu já. E foi o que eu fiz hoje. Lugar mais mundano que um shopping center classe média-alta impossível. Andava sozinha, sem compromisso, sem destino, sem perguntas, sem frases completas, sem almas a minha volta. Porque era justamente isso que eu via e sentia, corpos sem almas, simplesmente vagando. Muitas histórias por trás dos rostos, mas nada demais. Muitos devem ter passado por histórias dignas de um drama mexicano comprado pelo sbt com filhos bastardos e trocas de esposas, outras de um escuro filme europeu cuja maior parte é só silêncio e mais silêncio, outras de pequenos contos repetidos com palavras tão significativas que nem o próprio autor entenderia o sentido. Não captei nenhuma delas, a não ser um único rosto. Sentei-me e pedi um café. A minha frente estava sentado um velho. Talvez não propriamente um velho, mas um daqueles senhores consumidos pela rotina, cansados da própria vida, rugas aflorando por todo o corpo. Na alma também, quem sabe? Vestia uma roupa comum, nada que chamasse a atenção geral, contudo chamou a minha. Na verdade, não a roupa, mas o rosto, a alma. Enfim, alguém almado nesse recinto. Porém, infeliz eu. A única alma que eu encontro naquele lugar, era uma alma calada, até mesmo triste. Bebia água casualmente como quem belisca um vinho. Era calvo, talvez por estresse, talvez por hereditariedade. Contudo eu via por entre seus olhos fixos no copo em sua frente, não era nenhuma dessas causas. Era tédio. Levava óculos bifocais. Isso é um palpite, já que ele não os tirou para ler nada próximo, muito menos forçava os olhos para ver. Talvez ele só visse o mundo por entre os olhos da alma e ele pensava o mesmo que eu. Por um instante me senti confortável o bastante para me sentar junto a ele e lhe fazer companhia. Mas não me mexi. Um ataque de tosse. Normal dos senhores cheios de tédio nessa idade. Tossem para ver se alguém os nota. Eu já havia notado-o há muito tempo. Não adiantava de nada eu lhe dizer isso. Aparentava ter uma penca filhos e netos que os abandonaram, uma mulher não muito atensiosa e uma amante para os fins de semana. Deveria ganhar um bom salário a custa de horas acordado, neurônios queimados e, é claro, alguns impostos sonegados. Paguei meu café e ia relutante embora, a observar o senhor, quando sua família chegou. Um jovem homem e uma senhora, provavelmente filho e esposa. Ele levantou os olhos do copo e deu um sorriso curto. A mulher, colocando as sacolas na cadeira mais próxima, foi tagarelando aos montes e o senhor só balançava a cabeça. Levantei-me e me perguntei: será que só eu pude perceber alma tão conturbada e simplória como essa? Fui me afastando e eu mesma me respondi: Acho que um dia, talvez, alguém também irá perceber minha alma conturbada e simplória.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
Flutuando...
Acho que por um instante, instante que já dura dias, eu venho abandonando aos poucos meu alter-ego neste blog para mostrar minhas verdadeiras aflições, as que só pertencem a minha alma. E mais uma vez está minha pura alma a escrever nessa lacuna em branco.
Existem momentos para tudo na nossa vida, e talvez, esses dias sejam para eu pensar em tudo que eu fiz durante esses 360 dias que se passaram. Se bem que refletindo ainda mais, tudo que eu fiz, estava habiatuada a fazer há muito mais do que míseros 360 dias. E deve ser por isso que esse momento de reflexão custa a passar, e como aflições são para serem compartilhadas, nem que seja com um simples blog, aqui estou eu.
Estive pensando (e na maioria das vezes esse não é um bom sinal). Por tanto tempo eu passei meus segundos preciosos a lembrar meu passado de forma dolorosa e contínua, focando em uma partícula tão ínfima do universo e nem percebendo, ao menos, que minha vida ia passando ao meu redor e eu ia perdendo experiências magnificas. Não por causa dessa partícula, mas por minha causa. Eu não me permitia ver além do minimalismo daquela partícula, para ver um universo gigantesco, mergulhado em possibilidades que eu não notava. Muitos anjos me ajudaram nesse tempo todo, porque amigos são puramente isso: anjos. Escutaram minhas lamúrias, secaram minhas lágrimas, me disseram as palavras mais dolorosas mas que eram precisas. Eu nem sabia o quanto eles estavam certos. Hoje, vejo que só eu posso mudar meu futuro, não esquecendo do meu passado, mas sim aprendendo com ele e enaltecendo os momentos brilhantes. Não há mais necessidade de me lembrar, de sentir, de chorar. Vou me soltar dessa partícula e vou flutuar para o universo, porque é para isso que eu vivo. É para descobrir o que a vida me reserva.
A ilustração foi retirada da revista Bastard#8
Visitem o site: http://www.bastardmagazine.net/
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Natal?
Hoje é véspera de Natal e as coisas parecem-me transformadas. Depois de quase 16 anos de existência esse é meu primeiro Natal que minha mãe não monta sua árvore, não vai nas milhões de lojas comprar enfeites cheios de purpurina e laços gigantescos, não compra flores vermelhas sequer pendura um Papai Noel em qualquer canto da casa. Esse é meu primeiro Natal sem passar pano nos copos, contar os pratos de festa e dar brilho nos talheres que meus pais ganharam de casamento. Meu primeiro Natal sem toda a minha família em casa, que é pequena eu sei, mas que faz muita diferença. Talvez porque eu já tenha me acostumado a ganhar todo o ano o mesmo presente da minha avó, a abraçar meu avô carinhosamente mesmo ele nem sabendo quem eu sou ("quem é você moça bonita?"), a repetir a mesma coisa trezentas vezes pra minha avó e ela só berrar um "hã?" atalianado, a ajudar meu avô carregar toda a tralha da minha avó ambos sorrindo, a ajudar a desembrulhar os brinquedos do meu primo, a montar com a minha prima os brinquedos do meu primo enquanto fofocamos, a dizer pra minha tia que ela ainda vai me ensinar a fazer a maionese, a descarregar os bilhões de pacotes, embrulhos e sacolas do carro dos meus tios pra colocar embaixo da árvore, a fazer com meu pai tudo que minha mãe manda, a escutar minha mãe xingando porque a farofa queimou. E hoje? Hoje não tem nada disso. Não vou precisar me arrumar, não vou comer panetone com sorvete, não vou tirar foto da família em volta da árvore iluminada, nada disso. Talvez o tempo tenha passado rápido demais, eu não tenha percebido, e todos estejam velhos demais pra comemorar a mesma coisa o ano todo. Talvez eu só gostaria de ter um momento de brincadeira, com todos juntos, em volta da mesa como sempre foi. Talvez eu não tenha percebido que eu cresci. Hoje, enfim, é mesmo Natal?
sábado, 22 de dezembro de 2007
(Momento desabafo antes do conto: por que você simplesmente não some da minha vida? Assim... pra sempre?)
*
Ela colocava as sacolas desuniformemente jogadas no porta malas, queria ir o mais rápido que pudesse. Abarrotado o carro de vinhos, velas e outras coisas próprias da data, já que amanhã fariam um ano. Contudo a surpresa seria hoje mesmo. Ligou o carro, olhou no retrovisor. Prendeu os cabelos, retocou o batom vermelho, checou os brincos. O mesmo par que ela havia usado no primeiro encontro deles. Homens não reparam quais os brincos e até mesmo qual roupa das mulheres, isso já sabemos de velhos. Mas as mulheres continuam a pensar que detalhes constroem a memória masculina. Lembrou de trezentos e cinquenta e cinco dias atrás, o primeiro encontro formal. Não se cria que no século XXI ainda hajam encontros formais, mas lá estava ela, adentrando a porta, vestida do mais belo vestido preto que tinha, para não ter como errar, os mais altos sapatos prata, o cabelo a bater-lhe nos ombros. Depois da porta, não via mais nada a não ser aqueles olhos confortantemente azuis. Olhos esses que hoje são só seus. O farol estava vermelho, parando não só o automovel como também seus pensamentos. Olhou no relógio. Vinte e uma horas e quarenta minutos. Os lírios eram brancos, aqueles que entregou às suas mãos. Largo sorriso, conversa sobre nada e tudo. Ele pagou a conta, bom gesto diria sua mãe. Foram para o seu apartamento e depois... depois foi só doces deletérios. Girou a chave na fechadura, gritou um olá e ninguém respondeu. Só escutara a respiração ofegante de dois corpos em sua própria cama. Abriu a porta do quarto com tão tremor que não fez ruído. A atrapalhar sua visão, presente se fez uma nuvem de lágrimas, mas já tinha visto o bastante mesmo. Havia nada e tudo a dizer, porém simplesmente girou a chave na fechadura novamente e deu as costas.
*
Ela colocava as sacolas desuniformemente jogadas no porta malas, queria ir o mais rápido que pudesse. Abarrotado o carro de vinhos, velas e outras coisas próprias da data, já que amanhã fariam um ano. Contudo a surpresa seria hoje mesmo. Ligou o carro, olhou no retrovisor. Prendeu os cabelos, retocou o batom vermelho, checou os brincos. O mesmo par que ela havia usado no primeiro encontro deles. Homens não reparam quais os brincos e até mesmo qual roupa das mulheres, isso já sabemos de velhos. Mas as mulheres continuam a pensar que detalhes constroem a memória masculina. Lembrou de trezentos e cinquenta e cinco dias atrás, o primeiro encontro formal. Não se cria que no século XXI ainda hajam encontros formais, mas lá estava ela, adentrando a porta, vestida do mais belo vestido preto que tinha, para não ter como errar, os mais altos sapatos prata, o cabelo a bater-lhe nos ombros. Depois da porta, não via mais nada a não ser aqueles olhos confortantemente azuis. Olhos esses que hoje são só seus. O farol estava vermelho, parando não só o automovel como também seus pensamentos. Olhou no relógio. Vinte e uma horas e quarenta minutos. Os lírios eram brancos, aqueles que entregou às suas mãos. Largo sorriso, conversa sobre nada e tudo. Ele pagou a conta, bom gesto diria sua mãe. Foram para o seu apartamento e depois... depois foi só doces deletérios. Girou a chave na fechadura, gritou um olá e ninguém respondeu. Só escutara a respiração ofegante de dois corpos em sua própria cama. Abriu a porta do quarto com tão tremor que não fez ruído. A atrapalhar sua visão, presente se fez uma nuvem de lágrimas, mas já tinha visto o bastante mesmo. Havia nada e tudo a dizer, porém simplesmente girou a chave na fechadura novamente e deu as costas.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Apenas mais uma página
Havia começado um texto, mas o perdi. Bem, quem sabe não possa reproduzir o que eu havia escrito, já que são frases que ecoam na minha mente há tantas horas infinitas.
Eu havia começado falando que irei escrever como um ser qualquer que escreve em seu diário, aquele com as páginas em branco desde a muito tempo, que vai preenchendo-se com rapidez à letra garranchuda. Já que é isso que eu sou, um ser qualquer. E é aí que eu paro para me perguntar: o que difere uma pessoa? o que nos torna ou não especiais? Perguntas como essas não são apenas indagações sem sentido de alguém que não tem mais a fazer, embora seja essa a situação em que estou. Perguntas como essas refletem sentimentos que só você sente, daqueles mais íntimos, e que ninguém mais pode sentir. Não porque ninguém possa sentir algum tipo de sentimento parecido com o seu, mas ninguém nunca poderá sentir os sentimentos que você sente. Eles são singularmente seus. Isso pelo simples fato de outro ser não estar preso em sua carne, dessa outra alma não ser você. Assim como você não poderá sentir os sentimentos dela, por não estar preso na carne dela. E acho que nessa primeira constatação que eu começo a responder minha pergunta. Não sou igual a ninguém porque só eu posso sentir o que eu sinto, só eu posso ser quem eu sou, só eu estou presa a meu ser para toda a eternidade. Seria isso um carma? Não sei, mas as coisas são assim. Em consequinte, pode ser por isso que eu seja especial. Por aguentar o que eu sou, ter momentos de divagações como esses, por saber que o mundo não gira em torno de um outro sol como muitas egopersonas pensam. Pena que não seja esse o argumento usado pelo resto do mundo, não seja esse o pensamento levado em conta na mente dos bilhões existentes, não seja essa a filosofia que move uma partícula. Porque é isso que nós somos. Apenas uma partícula no meio de todo o universo. Pena que não enxergamos nada disso e que nunca encontraremos respostas a nada.
Eu havia começado falando que irei escrever como um ser qualquer que escreve em seu diário, aquele com as páginas em branco desde a muito tempo, que vai preenchendo-se com rapidez à letra garranchuda. Já que é isso que eu sou, um ser qualquer. E é aí que eu paro para me perguntar: o que difere uma pessoa? o que nos torna ou não especiais? Perguntas como essas não são apenas indagações sem sentido de alguém que não tem mais a fazer, embora seja essa a situação em que estou. Perguntas como essas refletem sentimentos que só você sente, daqueles mais íntimos, e que ninguém mais pode sentir. Não porque ninguém possa sentir algum tipo de sentimento parecido com o seu, mas ninguém nunca poderá sentir os sentimentos que você sente. Eles são singularmente seus. Isso pelo simples fato de outro ser não estar preso em sua carne, dessa outra alma não ser você. Assim como você não poderá sentir os sentimentos dela, por não estar preso na carne dela. E acho que nessa primeira constatação que eu começo a responder minha pergunta. Não sou igual a ninguém porque só eu posso sentir o que eu sinto, só eu posso ser quem eu sou, só eu estou presa a meu ser para toda a eternidade. Seria isso um carma? Não sei, mas as coisas são assim. Em consequinte, pode ser por isso que eu seja especial. Por aguentar o que eu sou, ter momentos de divagações como esses, por saber que o mundo não gira em torno de um outro sol como muitas egopersonas pensam. Pena que não seja esse o argumento usado pelo resto do mundo, não seja esse o pensamento levado em conta na mente dos bilhões existentes, não seja essa a filosofia que move uma partícula. Porque é isso que nós somos. Apenas uma partícula no meio de todo o universo. Pena que não enxergamos nada disso e que nunca encontraremos respostas a nada.
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A ilustração foi retirada do site da designer e ilustradora Pat Lobo
Entrem lá e vejam seus maravilhosos trabalhos!
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ps.: Para ver a ilustração ampliada, é só clicar nela.
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Interpretando CACHAÇA - VANGUART com A Virgulab.
E só me vem quando não há certeza
Me desconjuros pra apagar a beleza
Da incertidumbre das mesmas mãos que as suas
E me atinge da melhor maneira
Como cânhamo ou cachaça certeira
Pra antecipar a quarta-feira
Eu vou sair,
Talvez te encontrar
São cinco e meia da manhã
E cadê?
Você sorri movendo quase nada
E antecipa a velha longa estrada
E os teus galhos vão me arborizando nu
Ainda teimo que não sou pra isso
Mas seus olhos gostam de correr o risco
E quero estar só, comigo
Eu vou sair,
Talvez te encontrar
São cinco e meia da manhã
Eu vou sair,
Pra não te encontrar
São cinco e meia da manhã.
Acho essa música simplesmente brilhante e totalmente entorpecida. Aquelas letras que você próprio escreve, refúgios nos seus cadernos de madrugada, pensando na pessoa amada de uma forma tão sofrida.
Se tem algo no mundo que só vem quando não há certeza é o amor, sendo o sentimento que nos desconcerta pela beleza, graça e elegância ofuscante do ser em questão. Obvio, sendo que esse mesmo ser atinge nosso profundo como só ele consegue, entorpecendo nossa alma e a roubando para si, como cachaça do mais alto teor alcoolico. Ele é tão simples e tão completo, tão perfeito e tão rústico, tão perto e tão distante. Não precisa fazer lá grande esforço pra alcançar o que a todo o instante consegue, traz a vida do apaixonado para mais próximo dele, mais rápida e mais surtada. Ele simplesmente enlaça nosso ser com o que pode, com o corpo, com a mente, com as palavras. E ao final, nós chegamos a conclusão de que não servimos para exercer esse tal de amor, mas que sim, nós gostamos de correr o risco do sentimento. E como todos os bons entorpecidos, no final da madrugada, saímos de casa e de nós mesmos para poder encontrar a única pessoa no mundo que nos fariam felizes. Contudo não dá, então, fechamo-nos e saímos para talvez nos encontrarmos no meio de tanto amor perdido.
E só me vem quando não há certeza
Me desconjuros pra apagar a beleza
Da incertidumbre das mesmas mãos que as suas
E me atinge da melhor maneira
Como cânhamo ou cachaça certeira
Pra antecipar a quarta-feira
Eu vou sair,
Talvez te encontrar
São cinco e meia da manhã
E cadê?
Você sorri movendo quase nada
E antecipa a velha longa estrada
E os teus galhos vão me arborizando nu
Ainda teimo que não sou pra isso
Mas seus olhos gostam de correr o risco
E quero estar só, comigo
Eu vou sair,
Talvez te encontrar
São cinco e meia da manhã
Eu vou sair,
Pra não te encontrar
São cinco e meia da manhã.
Acho essa música simplesmente brilhante e totalmente entorpecida. Aquelas letras que você próprio escreve, refúgios nos seus cadernos de madrugada, pensando na pessoa amada de uma forma tão sofrida.
Se tem algo no mundo que só vem quando não há certeza é o amor, sendo o sentimento que nos desconcerta pela beleza, graça e elegância ofuscante do ser em questão. Obvio, sendo que esse mesmo ser atinge nosso profundo como só ele consegue, entorpecendo nossa alma e a roubando para si, como cachaça do mais alto teor alcoolico. Ele é tão simples e tão completo, tão perfeito e tão rústico, tão perto e tão distante. Não precisa fazer lá grande esforço pra alcançar o que a todo o instante consegue, traz a vida do apaixonado para mais próximo dele, mais rápida e mais surtada. Ele simplesmente enlaça nosso ser com o que pode, com o corpo, com a mente, com as palavras. E ao final, nós chegamos a conclusão de que não servimos para exercer esse tal de amor, mas que sim, nós gostamos de correr o risco do sentimento. E como todos os bons entorpecidos, no final da madrugada, saímos de casa e de nós mesmos para poder encontrar a única pessoa no mundo que nos fariam felizes. Contudo não dá, então, fechamo-nos e saímos para talvez nos encontrarmos no meio de tanto amor perdido.
domingo, 16 de dezembro de 2007
Futilidade 2000
Gá,
não posso esconder como estou aflita e tenho a necessidade de te contar tudo o que aconteceu aqui desde o e-mail passado. Muito passado, alias não? Faz uns meses que você não me responde. Porque está me ignorando? Você sabe, Gá, o tempo está passando cada vez mais rápido e quando a gente vê... PUFF! já foi e aconteceram bilhões de coisas que MEU DEUS. E, é claro, preciso mais do que nunca da sua opinião masculina special. Estou doida pra te contar minha própria vida que quase me esqueci de perguntar como está o seu namoro com o inglês. Lembro que no último e-mail você disse que ele estava se engraçando com um maldito argentino, dizem que os argentinos são bonitos mas eu acredito que você seja bem mais do que qualquer um deles. Não se preocupe. Brasileiros sempre ganham dos argentinos. Só não volte da França por causa dele, hein? Aproveite a chance que você tem de estar em um lugar melhor. Aí devem ter muitos sapatos, blusas de decote v, calças pantalonas, blusas de decote canoa, calças skinnys, casacos chiquérrimos, né? Não! Não me responda, Gabriel. Você sabe que meu consumismo chegou até onde não se dá mais para ver e meu psiquiatra está tratando isso com muito fervor. Embora não tenha dado muito certo e eu tenha estourado o limite do meu cartão de crédito de novo... Porém não foi pra isso que eu te escrevi. Foi por algo mais complexo do que isso, e preciso realmente da sua opinião, meu queriiiiiiiiido amigo. Se você estivesse aqui, no Brasil, estaria batendo na sua casa agora com uma garrafa de vodca, muitas barras de chocolate e alguns pacotes de batatas fritas. E olha que arrebentar a dieta desse jeito não é por pouca coisa, já que desde o mês passado eu emagreci mais uns... 5 quilos? Mas essa é outra história, depois te conto minha dieta milagrosa pro verão porque a coisa aqui é sééééééééria! Pois bem. Eu tenho que tomar uma decisão. Se eu fico com o Ricardo ou com o João ou com o Daniel ou com Marcelo. Sim, eu estava feliz com os quatro. Mas não dá mais. Imagine! Quatro homens no meu pé. Estou pensando em terminar com todos... Mas não. Se eu terminar com todos, eu vou ficar sozinha. Entende isso, Gá? SO-ZI-NHA. E sozinha não dá. Pra mim o ditado "Antes só do que mal acompanhada" não faz sentido algum, porque prefiro estar acompanhada de um porco à estar sozinha numa sexta feira a noite. Eu poderia terminar tudo com três deles e ficar somente com um. O problema é que eu não sei qual deles. O Ricardo tem uma mania egocêntrica ridicula de enfileirar todas as rolhas das garrafas de vinho que nós bebemos na noite. Não é profundamente irritante? Já o João é tão meloso, mas tão meloso que ele não me encontra sem qualquer poema sem sentido de um tál de Fernando Pessoa. Chego em casa com dor de cabeça. O Daniel é bruto demais, não me liga, não conversa, não é carinhoso, não é nada! Mas é... Ele é bom nisso mesmo que você está pensando. Noites inteiras de puro prazer. O Marcelo me liga todo dia que chega a ser um tormento, 300 chamadas não atendidas de Marcelo, 300 recados de Marcelo, 300 e-mails de Marcelo. Por favor, Gá, me ajude a escolher com quem ficar! Sabe como eu sou indecisa. Deixa eu ir me despedindo porque eu já estou escrevendo isso aqui a muito tempo e quanto mais eu fico no computador, mais meu pai desconta da minha mesada. Além do mais, amanhã tenho que acordar cedo pra ir pra faculdade.
Beeeeijoca,
Deisinha.
Ps.: Vê se não me larga pelos seus amigos franceses cults e não quero ler a mesma resposta que você me mandou no email passado: "Cansei da sua futilidade". Eu não sou assim.
não posso esconder como estou aflita e tenho a necessidade de te contar tudo o que aconteceu aqui desde o e-mail passado. Muito passado, alias não? Faz uns meses que você não me responde. Porque está me ignorando? Você sabe, Gá, o tempo está passando cada vez mais rápido e quando a gente vê... PUFF! já foi e aconteceram bilhões de coisas que MEU DEUS. E, é claro, preciso mais do que nunca da sua opinião masculina special. Estou doida pra te contar minha própria vida que quase me esqueci de perguntar como está o seu namoro com o inglês. Lembro que no último e-mail você disse que ele estava se engraçando com um maldito argentino, dizem que os argentinos são bonitos mas eu acredito que você seja bem mais do que qualquer um deles. Não se preocupe. Brasileiros sempre ganham dos argentinos. Só não volte da França por causa dele, hein? Aproveite a chance que você tem de estar em um lugar melhor. Aí devem ter muitos sapatos, blusas de decote v, calças pantalonas, blusas de decote canoa, calças skinnys, casacos chiquérrimos, né? Não! Não me responda, Gabriel. Você sabe que meu consumismo chegou até onde não se dá mais para ver e meu psiquiatra está tratando isso com muito fervor. Embora não tenha dado muito certo e eu tenha estourado o limite do meu cartão de crédito de novo... Porém não foi pra isso que eu te escrevi. Foi por algo mais complexo do que isso, e preciso realmente da sua opinião, meu queriiiiiiiiido amigo. Se você estivesse aqui, no Brasil, estaria batendo na sua casa agora com uma garrafa de vodca, muitas barras de chocolate e alguns pacotes de batatas fritas. E olha que arrebentar a dieta desse jeito não é por pouca coisa, já que desde o mês passado eu emagreci mais uns... 5 quilos? Mas essa é outra história, depois te conto minha dieta milagrosa pro verão porque a coisa aqui é sééééééééria! Pois bem. Eu tenho que tomar uma decisão. Se eu fico com o Ricardo ou com o João ou com o Daniel ou com Marcelo. Sim, eu estava feliz com os quatro. Mas não dá mais. Imagine! Quatro homens no meu pé. Estou pensando em terminar com todos... Mas não. Se eu terminar com todos, eu vou ficar sozinha. Entende isso, Gá? SO-ZI-NHA. E sozinha não dá. Pra mim o ditado "Antes só do que mal acompanhada" não faz sentido algum, porque prefiro estar acompanhada de um porco à estar sozinha numa sexta feira a noite. Eu poderia terminar tudo com três deles e ficar somente com um. O problema é que eu não sei qual deles. O Ricardo tem uma mania egocêntrica ridicula de enfileirar todas as rolhas das garrafas de vinho que nós bebemos na noite. Não é profundamente irritante? Já o João é tão meloso, mas tão meloso que ele não me encontra sem qualquer poema sem sentido de um tál de Fernando Pessoa. Chego em casa com dor de cabeça. O Daniel é bruto demais, não me liga, não conversa, não é carinhoso, não é nada! Mas é... Ele é bom nisso mesmo que você está pensando. Noites inteiras de puro prazer. O Marcelo me liga todo dia que chega a ser um tormento, 300 chamadas não atendidas de Marcelo, 300 recados de Marcelo, 300 e-mails de Marcelo. Por favor, Gá, me ajude a escolher com quem ficar! Sabe como eu sou indecisa. Deixa eu ir me despedindo porque eu já estou escrevendo isso aqui a muito tempo e quanto mais eu fico no computador, mais meu pai desconta da minha mesada. Além do mais, amanhã tenho que acordar cedo pra ir pra faculdade.
Beeeeijoca,
Deisinha.
Ps.: Vê se não me larga pelos seus amigos franceses cults e não quero ler a mesma resposta que você me mandou no email passado: "Cansei da sua futilidade". Eu não sou assim.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Como eu havía dito, hoje vou dar uma dica de livro. Como esta é a minha primeira dica no blog, eu não poderia deixar de indicar um dos meus livros favoritos:
"Ensaio sobre a Cegueira" do José Saramago
Nesse livro, Saramago descreve de forma singular um tema polêmicamente figurado: a cegueira (não somente fisíca como psiquicamente). A trama se dá em uma cidade imaginária em que, de repente em um sinal de trânsito, um homem fica cego. Não uma cegueira na qual enxerga-se só escuridão, mas sim um novo tipo de cegueira nunca vista antes: a cegueira branca. E se não bastasse, ela é contagiosa. O Estado intervém isolando os cegos em uma quarentena, o que faz com que lá dentro se forme uma nova sociedade, libertando todos os aspectos morais baixos da raça humana.
Com a nova epidemia, o autor brilhantemente revela os sentimentos mais crus e refinados da existência humana em 8 personagens sem nome, mas que nos identificamos pela pureza e complexidade: o primeiro cego, a mulher do primeiro cego, o médico, a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o velho da venda preta, o rapazinho estrábico e o cão das lágrimas. Não darei a explicação dos nomes dos personagens, afinal o livro revela e ler é muito mais interessante do que eu lhes contar.
Com uma sociedade em colapso, vertentes morais e psicologicas vêm à tona, e Saramago mostra isso de forma esplendorosa, utilizando a transferência do narrador para com a realidade vigente no história e, sua marca registrada, nenhuma pontuação nos diálogos.
O livro mais apaixonante e chocante que eu jamais li.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Mudança ou não? Eis a questão.
Hoje, eu estava pensando em postar no blog uma dica de livro, mas dadas as circunstâncias deixarei a dica para amanhã. Nesta noite de quarta feira, fui à colação de grau da oitava série de 2007 e nem preciso dizer que revivi momentos intensos de saudades, alegria e amargura. Como blog serve para esse tipo de iniciativa, escrever o que nem sempre temos coragem de falar, o que nós pensamos que ninguém vá ler e/ou saber, o que somente nós sentimos no íntimo, aqui estou eu falando sobre.
Dizem que quando nós estamos fora de uma situação, nós vemos tudo de uma forma mais nítida, menos sonhadora, e acho que de fato as coisas são assim mesmo. Embora tenha visto no ano passado (meu ano de formatura de oitava) a colação de grau das salas da manhã, que não compunham meu dia-a-dia, vê-los receber o diploma era ainda assim sonhador pra mim, afinal estávamos na mesma etapa da vida e eles estavam tão ansiosos quanto eu. Era um sentimento aventureiro, de medo do que poderia vir pela frente, de receio de que havíamos feitos as escolhas erradas (que afetariam toda a nossa vida), das saudades imensas que sentiríamos do modo como vivíamos, do que sentíamos pelos que nos rodeavam... Estava tão "ecstasyada" com tudo aquilo que eu não havía percebido como aquilo tudo era... pequeno. Hoje, um ano depois, vejo toda a situação de uma forma bem mais clara. As coisas realmente mudaram. Mas não a mudança que eu esperava que fosse, mudança daquelas rápidas que nos deixam sem rumo perguntando-se "WHAT THE FUCK?". Todos pensam que será dessa forma e talvez tenha sido para muitas pessoas, mas para mim não foi. E foi quando eu mais senti medo. Aí é que eu me pergunto: Qual Medo é maior? O Medo da mudança ou O Medo de que nada mude? Depois de mudar de bloco e ir para o tão esperado ensino médio, eu digo, o medo de que nada mude é bem maior do que o medo da própria mudança, simplesmente aterrorizador. Nada se transmutar é ter sua esperança do novo escorrendo pelos dedos da sua mão, é ter todos os seus sonhos transformados cinzas e jogados no vaso sanitário. Pense em uma vida em que nenhum dos seus sonhos se realizem, todos eles somente fiquem guardados pra você sem chance alguma de se realizarem; em um local em que tudo seja da mesma coloração, com as mesmas pessoas robóticas e o mesmo regresso; em uma época em que tudo seja igual, não apenas parecido, mas sim igual; em seus sentimentos sem afloração; em um universo sem novidades. Mudanças não só transformam a atmosfera a nosso redor como nos transformam. Não tenham medo das mudanças, deleiteiem-se em cada momento e vejam como delas vocês podem tirar proveito. Ficar sem elas é bem pior.
Bem meus amigos formandos deste ano, vivam essas pequenas mudanças de 2007 para 2008 porque mudança mesmo será de 2010 para 2011.
A minha maior mania é antecipar as coisas e cá estou eu fazendo isso de novo com o tempo...
Dizem que quando nós estamos fora de uma situação, nós vemos tudo de uma forma mais nítida, menos sonhadora, e acho que de fato as coisas são assim mesmo. Embora tenha visto no ano passado (meu ano de formatura de oitava) a colação de grau das salas da manhã, que não compunham meu dia-a-dia, vê-los receber o diploma era ainda assim sonhador pra mim, afinal estávamos na mesma etapa da vida e eles estavam tão ansiosos quanto eu. Era um sentimento aventureiro, de medo do que poderia vir pela frente, de receio de que havíamos feitos as escolhas erradas (que afetariam toda a nossa vida), das saudades imensas que sentiríamos do modo como vivíamos, do que sentíamos pelos que nos rodeavam... Estava tão "ecstasyada" com tudo aquilo que eu não havía percebido como aquilo tudo era... pequeno. Hoje, um ano depois, vejo toda a situação de uma forma bem mais clara. As coisas realmente mudaram. Mas não a mudança que eu esperava que fosse, mudança daquelas rápidas que nos deixam sem rumo perguntando-se "WHAT THE FUCK?". Todos pensam que será dessa forma e talvez tenha sido para muitas pessoas, mas para mim não foi. E foi quando eu mais senti medo. Aí é que eu me pergunto: Qual Medo é maior? O Medo da mudança ou O Medo de que nada mude? Depois de mudar de bloco e ir para o tão esperado ensino médio, eu digo, o medo de que nada mude é bem maior do que o medo da própria mudança, simplesmente aterrorizador. Nada se transmutar é ter sua esperança do novo escorrendo pelos dedos da sua mão, é ter todos os seus sonhos transformados cinzas e jogados no vaso sanitário. Pense em uma vida em que nenhum dos seus sonhos se realizem, todos eles somente fiquem guardados pra você sem chance alguma de se realizarem; em um local em que tudo seja da mesma coloração, com as mesmas pessoas robóticas e o mesmo regresso; em uma época em que tudo seja igual, não apenas parecido, mas sim igual; em seus sentimentos sem afloração; em um universo sem novidades. Mudanças não só transformam a atmosfera a nosso redor como nos transformam. Não tenham medo das mudanças, deleiteiem-se em cada momento e vejam como delas vocês podem tirar proveito. Ficar sem elas é bem pior.
Bem meus amigos formandos deste ano, vivam essas pequenas mudanças de 2007 para 2008 porque mudança mesmo será de 2010 para 2011.
A minha maior mania é antecipar as coisas e cá estou eu fazendo isso de novo com o tempo...
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Jogo de Frases
O importante na vida é a viagem não o destino. São os passos no caminho que nos tornam o que somos. Guarda o que não presta, encontrarás o que é preciso. Gravou-se a palavra, mas também se desenhou a emoção. Há gestos para que nem sempre se pode encontrar explicação fácil, algumas vezes nem sempre pôde ser encontrada.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
O Fracasso
A única coisa que ela conseguiu fazer foi bater a porta atrás de si e desvalecer ao chão. Havia se segurado por muitas horas mas agora era inevitável, sucumbiu. Abriu os olhos e somente o que via eram os azulejos encardidos da cozinha e dois grandes olhos, amarelos, a observá-la de forma preocupada. Acariciou o gato e se levantou. Ela passou por cima do felino e continuou a andar, como se ele não estivesse lá, a procura do quarto por entre o laranja do final da tarde. Achou-o, afinal, o que parecia impressionante para ela àquela altura. Não sabia o que teria acontecido com ela se continuasse onde estava anteriormente. Arrancou os sapatos, tirou a meia calça já rasgada, desabotoou o camisete. Acendeu um cigarro. O que, afinal de contas, era o fracasso? Ela não se considerava uma vencedora plena, mas o gosto amargo não lhe era habitual. Em primeira hora, o fracasso era somente isso: um gosto amargo que percorre não somente a boca, mas passa pela garganta e chega ao estômago, provocando a mais terrível náusea já sentida. Contudo não era só isso. Apagou o cigarro. Envolvia muito mais. Acendeu outro cigarro. Mais do próprio coração do que qualquer outro órgão do corpo. O gosto amargo pode ser ruim, porém o aperto e o desaparecimento de todo e qualquer sentimento para predominar somente o fracasso é muito pior. Sentimentos são tão inenarráveis que o mais provável era somente falar de sensações decorrentes. Apagou o cigarro. Mas ela queria mais. Acendeu mais um cigarro. Ela queria saber o que era tudo aquilo. Queria sentir nas entranhas a verdade daquele sentimento que a diminuía a um átomo no universo. Lembrou-se de que o fracasso poderia ser apenas a ausência da vitória. A vitória, em contra partida, poderia ser a náusea ao contrário. É singelamente o mais puro prazer sentido nos poros, nos nervos, nas raízes. Apagou o cigarro. A vitória chegava ao coração também, pensou ela. Acendeu outro cigarro. Contudo não conseguia pensar na vitória como um ser animado, existente, real. Só sentia o fracasso, só via o fracasso, só... fracassava. O fracasso era real, assim como as flores do seu jardim, a xícara ao seu lado, o rádio ligado ao longe. O gato pulou em seu colo e ronronou alguma coisa que ela queria entender. Apagou o cigarro. Seria o fracasso algo exclusivo da raça humana? Acendeu mais um cigarro. Uma daquelas coisas que os seres humanos só inventam nas horas vagas em que não tem lá muito o que fazer? Seria imbecilidade inventar algo para o próprio tédio que leva ao desespero. Talvez fosse só maldade, ela pensou. Maldade pura daqueles que se cansam de vencer e gostam de ver os outros sofrer com o fracasso. Perguntou-se de repente se ela não seria uma dessas pessoas más. Apagou o cigarro. Afinal, não havia sentido esse gosto amargo antes. Acendeu outro cigarro. Não conseguiu pensar muito mais sobre o fato dela ser a culpada do fracasso já que o mesmo bloqueava mensagens nos pequenos neurônios que ainda funcionavam. Era como um eco. Seria o fracasso, então, o eco dos nossos medos e de nossas inseguranças? Jogamos no ar nossos mais intímos sentimentos medíocres para colher no futuro meia dúzia de fracassos bem maduros, frutos dos sentimentos que nós achavámos ter guardado. Apagou o cigarro. Mas que na realidade estavam por aí, vagando. Acendeu mais um cigarro. Não sabia mais onde trancar o fracasso e resgatar, talvez, a causa de tudo aquilo. Tentou, tentou, tentou e tentou mais uma vez. Quanto mais ela buscava, mais ela se perdia e quanto mais ela lembrava do fracasso, mais o fracasso estava lá. O seu fracasso não era um simples fracasso, daqueles que você não espera e que surgem de surpresa. Apagou o cigarro. Seu fracasso era premeditado, acendeu outro cigarro, uma reunião de substantivos, adjetivos e principalmente verbos que ela não empregou de forma correta. E ela sabia que não estava fazendo o certo, e mesmo assim, o fez. Uma negação da vida, um... fracasso. Resolveu procurar no dicionário. Dicionários são bem úteis na significação de palavras, mas não de sentimentos. Porém, lá estava ela folheando seu Mini Aurélio a procura do que a salvaria. Apagou o cigarro. Página 331. Acendeu outro cigarro. Lá estava: FRA-CAS-SO: mau êxito, malogro, ruína. Leu, releu, rereleu. Definitivamente dicionários só eram bons com palavras e seu fracasso aumentou de tamanho. Não ocupava mais seu coração, muito menos seu corpo. Seria ótimo se ocupasse somente seu quarto ou sua casa. Bom seria se ocupasse somente seu bairro, sua cidade, seu país. Porém, ocupava o universo, seu universo. Apagou o cigarro. E isso já bastava para sucumbir. Acendeu outro cigarro. Sucumbiu, de repente, em seu próprio espírito, o sentimento tomando-a pela mão e levando-a aos mais imcompreensíveis becos. Becos nos quais desapareciam os sentimentos, os olhares, as palavras, os julgamentos, os medos, as insegurança, os carinhos, os amores, os... fracassos. Apagou o cigarro. Como em qualquer uma das suas divagações, acendeu o último cigarro, não chegou a conclusão nenhuma. Apenas que o fracasso é meio maço de cigarros jogado fora.
BUUUUUUUUUUUULLSHIT!
Não pude deixar de comentar sobre isso no começo da minha postagem hoje no meu blog, ligo meu "querido" aparelho televisivo e lá está passando... PUNK'D. Aquele programa que se fazem "pegadinhas" com os astros de hollywood. Eu só me pergunto: COMO ELES NÃO PERCEBEM? Porque veja bem. Eles fazem sempre as mesmas piadas, da mesma forma, com os mesmos atores, é absoluta e completamente óbvio! Fico impressionada como as coisas na televisão são de plástico. Ou talvez de vidro? Porque, afinal, um dia elas quebrarão. Parece que nada perdura muito neste mundo. Não faço muita questão de enterder porque. Contudo existe um mundo em que as palavras perduram, são tiros no vácuo que viajam para sempre até o além.
O mundo da literatura.
Estava lendo o livro de crônicas da lista de material escolar, e eu não o menosprezo só porque é da lista de material escolar, e encontrei uma crônica do Paulo Mendes Campos chamada "O amor acaba" e a tentação de postar um trecho dela foi bem maior do que talvez a vontade de vocês de o ler.
"às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido"
Paulo está certo? Ou talvez é somente mais uma confissão de alguém que sofre por um sentimento que não é palpável? Eu discordo dele. Por mais que se tenha sofrido e por mais que se queira que um período seja apagado de sua vida para todo o sempre, o importante foi tudo aquilo pelo qual você passou. Todas as noites acordadas escrevendo, todos os sonhos que não chegaram a realidade, todos os ensaios de diálogos possíveis, todos os olhares melancólicos jogados pelas costas da pessoa amada. E depois de uma grande decepção você só diz simplesmente: nunca mais farei isso. Como diz os PIMP: BUUUUUUUUUUUUULLSHIT! Você prosseguirá fazendo isso na sua vida, até encontrar alguém que te ame mais. É como eu escutei em um Cd do Legião Urbana no carro da minha amiga. O poeta diz de forma singela: "Alguém aqui já sofreu por um amor verdadeiro? Pois eu cheguei a conclusão de que se o amor é verdadeiro, não há sofrimento." Pois é. Renato Russo é mesmo um poeta e ele entende muito bem... hã... o sentimento das bilhões de pessoas existentes na Terra. Porque por mais que você tenha passado todas as noites acordadas escrevendo, tenha tido sonhos que não chegaram a realidade, tenha ensaiado diálogos possíveis, tenha jogado olhares melancólicos pelas costas da pessoa amada, você FEZ. E estava feliz fazendo aquilo. Eu sei, porque já fiz tudo isso...
O mundo da literatura.
Estava lendo o livro de crônicas da lista de material escolar, e eu não o menosprezo só porque é da lista de material escolar, e encontrei uma crônica do Paulo Mendes Campos chamada "O amor acaba" e a tentação de postar um trecho dela foi bem maior do que talvez a vontade de vocês de o ler.
"às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido"
Paulo está certo? Ou talvez é somente mais uma confissão de alguém que sofre por um sentimento que não é palpável? Eu discordo dele. Por mais que se tenha sofrido e por mais que se queira que um período seja apagado de sua vida para todo o sempre, o importante foi tudo aquilo pelo qual você passou. Todas as noites acordadas escrevendo, todos os sonhos que não chegaram a realidade, todos os ensaios de diálogos possíveis, todos os olhares melancólicos jogados pelas costas da pessoa amada. E depois de uma grande decepção você só diz simplesmente: nunca mais farei isso. Como diz os PIMP: BUUUUUUUUUUUUULLSHIT! Você prosseguirá fazendo isso na sua vida, até encontrar alguém que te ame mais. É como eu escutei em um Cd do Legião Urbana no carro da minha amiga. O poeta diz de forma singela: "Alguém aqui já sofreu por um amor verdadeiro? Pois eu cheguei a conclusão de que se o amor é verdadeiro, não há sofrimento." Pois é. Renato Russo é mesmo um poeta e ele entende muito bem... hã... o sentimento das bilhões de pessoas existentes na Terra. Porque por mais que você tenha passado todas as noites acordadas escrevendo, tenha tido sonhos que não chegaram a realidade, tenha ensaiado diálogos possíveis, tenha jogado olhares melancólicos pelas costas da pessoa amada, você FEZ. E estava feliz fazendo aquilo. Eu sei, porque já fiz tudo isso...
domingo, 9 de dezembro de 2007
Pra que?
Muitos pensam que diários são coisas ultrapassadas. Bem, eu também penso dessa forma. Porque estou aqui então? Deve ser porque, talvez, me irrite profundamente o barulho do lápis no papel e me agrade muito mais as teclas tilintando. Ou simplesmente porque no computador as coisas pareçam muito mais fáceis de serem apagadas. E tá aí o que o homem vem tentando fazer com a tecnologia, apagar seus erros reais, da vida que não é virtual. Tá, tá. Isso não tem nada a ver com o verdadeiro motivo de eu fazer essa primeira postagem de abertura. Eu deveria pensar muito antes de fazê-la, mas não. O que sair de mim, acho que será o melhor - ou o pior? Já que isso daqui existe, que eu usufrua da melhor maneira possível e sei que usufruirei bem melhor do que aquele diário rosa que ganhei da minha mãe aos 6 anos de idade.
Apelos psicologicos, confissões, pequenos detalhes literários e contos feitos por mim mesma. Ou por outro eu? Eis a pergunta.
Apelos psicologicos, confissões, pequenos detalhes literários e contos feitos por mim mesma. Ou por outro eu? Eis a pergunta.
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