sábado, 22 de dezembro de 2007

(Momento desabafo antes do conto: por que você simplesmente não some da minha vida? Assim... pra sempre?)

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Ela colocava as sacolas desuniformemente jogadas no porta malas, queria ir o mais rápido que pudesse. Abarrotado o carro de vinhos, velas e outras coisas próprias da data, já que amanhã fariam um ano. Contudo a surpresa seria hoje mesmo. Ligou o carro, olhou no retrovisor. Prendeu os cabelos, retocou o batom vermelho, checou os brincos. O mesmo par que ela havia usado no primeiro encontro deles. Homens não reparam quais os brincos e até mesmo qual roupa das mulheres, isso já sabemos de velhos. Mas as mulheres continuam a pensar que detalhes constroem a memória masculina. Lembrou de trezentos e cinquenta e cinco dias atrás, o primeiro encontro formal. Não se cria que no século XXI ainda hajam encontros formais, mas lá estava ela, adentrando a porta, vestida do mais belo vestido preto que tinha, para não ter como errar, os mais altos sapatos prata, o cabelo a bater-lhe nos ombros. Depois da porta, não via mais nada a não ser aqueles olhos confortantemente azuis. Olhos esses que hoje são só seus. O farol estava vermelho, parando não só o automovel como também seus pensamentos. Olhou no relógio. Vinte e uma horas e quarenta minutos. Os lírios eram brancos, aqueles que entregou às suas mãos. Largo sorriso, conversa sobre nada e tudo. Ele pagou a conta, bom gesto diria sua mãe. Foram para o seu apartamento e depois... depois foi só doces deletérios. Girou a chave na fechadura, gritou um olá e ninguém respondeu. Só escutara a respiração ofegante de dois corpos em sua própria cama. Abriu a porta do quarto com tão tremor que não fez ruído. A atrapalhar sua visão, presente se fez uma nuvem de lágrimas, mas já tinha visto o bastante mesmo. Havia nada e tudo a dizer, porém simplesmente girou a chave na fechadura novamente e deu as costas.

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